01/05/2009

a mulher de trinta anos

Na Sra. d'Aiglemont, a indumentária estava em harmonia com o pensamento que dominava sua pessoa. As tranças largas formavam no alto da cabeça um coque, ao qual não acrescentava nenhum enfeite, porque parecia ter renunciado para sempre à preocupação da aparência. Assim, nunca se lhe surpreendia nenhum desses toques de coqueteria que prejudicam tantas mulheres. Mas, por mais modesto que fosse seu traje, não lhe escondia a elegância do corpo. De resto, o luxo de seu vestido amplo consistia num corte extremamente original; e, se é permitido procurar idéias no arranjo de um tecido, pode-se dizer que as simples e numerosas pregas comunicavam-lhe uma grande nobreza. Contudo, talvez ela traísse as indeléveis fraquezas femininas no cuidado que dedicava às mãos e aos pés; mas, se os exibia com algum prazer, seria difícil à rival mais maliciosa achar seus gestos afetados, tanto pareciam espontâneos ou devidos a hábitos de infância. Esse resquício de coqueteria fazia-se mesmo desculpar por uma graciosa despreocupação. Esse conjunto de maneiras, essa reunião de pequeninas coisas que fazem uma mulher feia ou bonita, atraente ou desagradável podem ser apenas indicados, principalmente quando, como no caso da Sra. d'Aiglemont, a alma é elemento de ligação de todos os detalhes e lhes imprime uma deliciosa unidade. Também sua atitude harmonizava-se com o caráter do rosto e da vestimenta. Somente certas mulheres eleitas, e somente numa certa idade, sabem dar uma linguagem a suas atitudes.

Livro: A mulher de trinta anos - Honoré de Balzac



Conteúdo protegido por direitos autorais. Texto contido no livro "A Mulher de 30 anos". Imagem coletada a partir de fonte na internet. Caso seja proprietário da imagem acima e queira que esta seja retirada deste post, envie um e-mail. Todos os direitos reservados.]

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